terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Psicologia aplicada


Dedicado ao meu leitor verde:





- Então, porque você está aqui? - perguntou o psicólogo, que batia insistentemente a caneta no bloco de anotações.
- Eu não me sinto bem ultimamente.
- O que há de errado?
- Eu tenho sempre o mesmo pesadelo.
- Ora, não estamos aqui brincando de Alice no País das Maravilhas.
- Tudo bem, senhor... - me levantei e puxei o crachá dele - senhor psicólogo.
- É minha profissão e não meu nome.
- Eu sei o que estou dizendo. Senhor psicólogo, eu tenho sérios problemas de desvio de conduta.
- Sente-se - ele disse apontando o sofá.
- Eu sou interesseiro.
- Hum, interessante.
- Porque você está fazendo jogo de palavras?
- Não estou fazendo jogo de palavras, estou apenas tirando minhas conclusões. Vamos Marcel, o seu problema não é esse, conte-me seu verdadeiro problema.
- Tudo bem, eu... eu... vejo gente morta, é, eu vejo gente morta.
- Com que frequência.
- Todo dia de finados.
- Marcel, isso não foi engraçado, você não tem a mínima graça.
- Olha aqui, quem o senhor pensa que é pra falar que eu não tenho graça, por acaso eu tive algum relacionamento com você há algum tempo. Aliás, o senhor quer parar de bater essa caneta nesse bloco.
- Marcel, controle-se, eu estou aqui para te ajudar.
- Ajudar porra nenhuma, eu não preciso de ajuda, eu te pedi ajuda por acaso, pedi? E outra, você fica me forçando a falar as coisas que eu não quero, eu não trabalho sobre pressão entendeu?
- Marcel, acalme-se, sente-se, vamos falar do seu trabalho.
- Trabalho seu cu seu viado, vou pedir demissão, vou entrar pro mundo do entretenimento, vou encher meu cu de dinheiro, sacolé? Não preciso da sua ajuda, tudo bem? Adeus e não me ligue mais.
- Mas eu nunca te liguei.
- Então não se atreva a ligar.
E sai batendo a porta, com meus segredos e minha dignidade intactos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário